sábado, 21 de novembro de 2009

A esperança no Sol que vem

É engraçado, belo, por assim dizer, a confiança depositada no nascer do Sol. Ainda que metaforicamente...

O fim do ano 2009, aos poucos, anuncia nas esquinas, nas luminárias das janelas, no clima etéreo que se propaga, aos poucos, tal como uma massa de ar leve, de brisa fresca, nas guirlandas já penduradas, ou ainda que seja nas promoções das vitrines comerciais, mais uma celebração do Natal e a chegada de 2010. Mais uma vez, o Nascimento. Nascer de novo. Um novo ano. Uma nova década. Uma nova chance de fazer o velho novo e o novo, velho também, porque dá lugar a outros ventos (que, apesar de inéditos, não arrastam o que, por ser antigo, é de imensa importância).

Assim também, muitas vezes, somos abordados pelo desconhecido que vem. São bastante frequentes as ocasiões em que sobrecarregados por trabalho, deveres, obrigações, somos abatidos, fatigados pelos fardos recaídos em nossos ombros, desolados por não senti-los mais leves e, sim, cada vez mais pesados.

É assim que muitas pessoas humildes levantam de suas camas, tomam seus cafés-da-manhã modestos, pegam seus ônibus de madrugada, andam tal qual errantes nos mesmos caminhos rotineiros, debaixo de sol tórrido ou de chuva torrencial, de calor modorrento ou frio rasgante, rumo ao labor, ao batente: e é assim que se sentem ao ver as perspectivas para dias diferentes desses tão melancólicos e difíceis se tornarem poucas e turvas e ao não enxergar, por mais que se investigue, sintoma de melhoras, daquelas significativas, a priori. Mas é também na sua humildade que, com fé, ao pé da janela de casa ou diante da janela dos autos, depositam sua confiança na alvorada. E vêem simbolicamente no Sol, o qual não parece nunca presenteá-las com novidades ou preconizar mudanças, de aparência imutável, como o despertador monótono de um relógio batendo todas as manhãs, a Esperança vir à reboque de um novo dia. Não são levados por algum motivo extraordinário a crer em renovações. Não são despertados por uma súbita e falsa crença na vida. Simplesmente, não mais que simplesmente, na sua fé, contagiam-se pela Esperança que o Sol lhes incurte ao nascer, renascer, belo e imponente, na madrugada das manhãs.

As comparações são muitas. O nascer do Sol é algo miraculoso, magnânimo. Sintetiza perfeitamente todas as reações, sejam químicas, físicas, biológicas ou sentimentais fervilhadas quando algo está a caminho. A luz dourada, o deitar delicado dos raios solares em cima dos prédios, trazendo mais um dia para as plantas, florescendo-as, e os pássaros e animais, preparando-os para a chegada da Primavera. Aos homens, a fim de aquecer e iluminar suas noites internas. Traz luz, calor, alegria, vida. Nos invernos mais longos, solitários e frios, derretendo os gelos secos e os úmidos, trazendo os sorrisos de volta às suas faces. Realmente, o alvorecer é muito subestimado. Infelizmente, é raro nós pararmos para reconhecer o que ele é e o que nos traz todos os dias, seja no sentido denotativo ou no conotativo, pelas relações com as quais se estabelece, pelas metáforas que nos traz, pela poesia que enfeita.

É comum eu me sentir assim: lúgubre, triste, enclausulada nas minhas próprias e ínfimas dores. Mas o Sol vem com seu poder desintegrar o casco formado, por mim mesma, ao meu redor. É indescritível a sensação de sentir isso acontecer, de ter noção da força vinda desse Sol às vezes, sem presentes, porém, sempre presente. E é, da mesma forma, impossível dizer em palavras a gratidão que eu sinto por ter esse conhecimento em mente.

Ele não se desenvolveu espontaneamente, por minha conta e responsabilidade. Não, senhor. Ele veio com a música. De alguém muitíssimo especial, que, graças a Deus, transmitiu-mo com toda a ternura possível, a simplicidade e musicalidade que emociona e fixa esses sentimentos dentro do meu coração, para que toda a vez que eu tenha um acesso íntimo a esse nascer, recorrendo à sua música, sem necessariamente precisar ver o ensolarar na janela; já está fincado no meu imaginário (apesar de que, quando ouço a canção e vejo a cena retratada ao vivo, é indubitavelmente mágico).

Foi ele quem criou essa perspectiva em mim, e sou-lhe imensamente grata. Da mesma forma, a passa, pela universalidade de sua bela música, para todos os seres humanos, sem qualquer acepção, como era caracterísitico de sua pessoa: é por isso que tantos corações foram, são e serão conquistados. Para que também creiam em dias mais luminosos. Um toque especial e irreversível na alma. Passou-nos valores de fé em Deus, de simplicidade, de discrisção, mas de amor, grande e preocupação e olhar atento aos sofridos ao redor do mundo. E, especialmente agora, 8 anos depois da partida para fora do mundo material em que vivia, que espero e rezo para que ele se encontre além do Sol.

Lá vem ele...


George Harrison - Here Comes The Sun



Here comes the sun, do do do do

Here comes the sun, and I say

It's all right!

Little darling,


It's been a long, cold, lonely winter

Little darling,

It feels like years since it's been here


Here comes the sun, do do do do

Here comes the sun, and I say


It's alright!



Little darling,


The smiles are returning to their faces


Little darling,


It seems like years since it's been here



Here comes the sun, do do do do


Here comes the sun, and I say


It's al right!



Sun, sun, sun, here it comes!


Sun, sun, sun, here it comes!


Sun, sun, sun, here it comes!


Sun, sun, sun, here it comes!


Sun, sun, sun, here it comes!



Little darling,


I feel that ice slowly melting


Little darling,


It seems like years since it's been clear



Here comes the sun, do do do do


Here comes the sun, and I say


It's alright!



Here comes the sun, do do do do


Here comes the sun


It's alright!



It's alright!



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Tudo na escuridão fica mais colorido depois que vem o Sol.


Essa é não é a melhor homenagem que eu poderia prestar a esse grande homem, músico, personagem. Nunca poderei fazer uma homenagem à sua altura; porém, tentei justamente fazer algo singelo, que combinasse com sua personalidade, e transparecesse de maneira leve e clara a minha grande admiração e incomensurável afeição por ele. Tentando, é claro, fugir um pouco da minha pieguice usual. Não sei se consegui, mas se não, me desculpem: a expressão dos sentimentos é limitada até certo ponto!

25/02/1943 - 21/11/2001

To the loving George, in very much loving memory!



terça-feira, 2 de junho de 2009

Flores no cabelo ☮


Tanta sujeira derradeira nos jornais
Vários representantes em órgãos federais
com tanto dinheiro lavado, roubo esquematizado
metidos em maus lençóis...
Queria que as pessoas fossem mais justas
E o mundo não fosse tanta burocracia
que o dinheiro não fosse tão requisitado,
e os homens não fossem tão dissimulados
Queria que não houvesse tantos panfletos pelas ruas
Queria que as calçadas fossem mais limpas
Pra eu poder andar descalça...

Tanta guerra em prol de causas vazias
O medo que brota em virtude da ganância desmedida
Tantas armas de fogo; por que não armas de água, como as de criança?
Queria que a vida fosse mais frágil do que ultimamente já anda
Para se ver mais claro e declaro que a guerra de nada adianta!
Queria que as pessoas fossem menos egoístas
Não se fingissem passar por despercebidas
Queria que olhassem com compaixão para aquelas
Que jazem nas ruas fracas, desfalecidas
Queria que não houvesse tanto sangue nas ruas,
que as calçadas fossem mais seguras
Pra eu poder andar descalça...

Tanta discriminação sem sentido
Doença contagiosa que se passa a ouvido
Tantas barreiras de cores, crenças e atitudes, tantos percalços
Que com amor, propriamente humano, deveriam ser dissolvidos
Tanto que nos deixamos contagiar - mas não deixemo-nos!
por tanta desgraça sem precedentes nem vestígios.
Queria que as pessoas fossem menos intolerantes,
poder criar tipos de vacinas contra esse efeito nocivo.
Queria que não houvesse tantas brigas nas ruas
Queria que as calçadas fossem mais públicas
Pra eu poder andar descalça...

Tanta poluição que adentra por todos possíveis orifícios
Tanta desistência da seleção do necessário para um ser vivo
É resultado da conhecida inconseqüência, que agora entrou em nova era
Uma era onde todos nossos atos são espelhos refletidos
Queria que as pessoas não fossem tão negligentes
que com inteiro ambiente, não só com meio
não houvesse tamanho descaso
Queria que não houvesse tanto lixo nas ruas
Queria que as calçadas fossem mais nuas
Pra eu poder andar descalça...

Descalça, sim, sentido a pele de meus pés sentir o chão
Descalça, flores no cabelo...
De vestido límpido, tão infinito quanto a imensidão.
Ah, doce utopia que me adoça!
Quisera distorcer as distopias desse coração
Estás tão distante; quando perto estarás?
Quero senti-la viva... quero sentir que isso é capaz
Quero o fim das trevas; quero o início e o meio da paz...

Love, Love, Love
Love, Love, Love
Love, Love, Love
There's nothing you can do that can't be done
Nothing you can sing that can't be sung
Nothing you can't say but you can learn how to play the game
It's easy
Nothing you can make that can't be made
No one you can save that can't be saved
Nothing you can't do but you can learn how to be you in time
It's easy!
All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need
Love, Love, Love
Love, Love, Love
Love, Love, Love
All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need
There's nothing you can know that isn't known
Nothing you can see that isn't shown
There's nowhere you can be that isn't where you're meant to be
It's easy!
All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need
All you need is love
(Come together!)
All you need is love
(Everybody!)
All you need is love, love
Love is all you need
Love is all you need
(Love is all you need)
Love is all you need
(Love is all you need)
Love is all you need
(Love is all you need)
Yes you can!
Love is all you need!
Woah!
Love is all you need
Love is all you need
Oh, yeah!
She loves you yeah, yeah, yeah
She loves you yeah yeah yeah
Love is all you need!
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If you're going to San Francisco
Be sure to wear some flowers in your hair
If you are going to San Francisco
You're gonna meet some gentle people there
For those who come to San Francisco,
Summer time will be a love-in there.
In the streets of San Francisco,
Gentle people with flowers in their hair.
All across the nation, such a strange vibration
People in motion.
There's a whole generation with a new explanation.
People in motion.
People in motion.
For those who come to San Francisco,
Be sure to wear some flowers in your hair.
If you come to San Francisco,
Summertime will be a love-in there.
If you come to San Francisco
Summertime will be a love-in there.

Desmificando mentiras...
O verdadeiro significado do símbolo da paz! :)

Peace and love :D

sábado, 18 de abril de 2009

Revólver

Voltar.

Voltar.

Voltar?

Voltar.
Voltar.
Voltar.
Voltar.
VOLTAR?
Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar.
Voltar.
Voltar.
Voltar.
Voltar.
Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar.Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar. Voltar.
VOLTAR!
VOLTAR?
.Ratlov .Ratlov .Ratlov .Ratlov .Ratlov .Ratlov .Ratlov .Ratlov .Ratlov .Ratlov .Ratlov .Ratlov .Ratlov Voltar. Ratlov. Voltar. Ratlov. Voltar. Ratlov. Voltar. Ratlov. Voltar. Ratlov. Voltar. Ratlov.

Voltar. Voltar. Voltar. Atroz. Voltar. Voltar. Voltar. Pra quê? Voltar. Voltar. Voltar. Não mais. Voltar. Voltar. Voltar. Algoz. Voltar. Voltar. Voltar. Sorte. Voltar. Voltar. Voltar. Revés. Voltar. Voltar. Voltar. Quisera. Voltar. Voltar. Voltar. Quiçá. Voltar. Voltar. Voltar. Criança. Voltar. Voltar. Voltar. Às vezes. Voltar. Voltar. Voltar. Melhor. Voltar. Voltar. Voltar. Aceitar. Voltar. Voltar. Voltar. Não. Voltar. Voltar. Voltar. Vou. Voltar. Voltar. Voltar. Sofrer. Voltar. Voltar. Voltar. Será. Voltar. Voltar. Voltar. Bom. Voltar. Voltar. Voltar. No fim. Voltar. Voltar. Voltar. Em fim. Voltar. Voltar. Voltar.

Voltar.
Voltar.Voltar.Voltar.
oltar.Voltar.Volta
ltar.Voltar.Volt
tar.Voltar.Vol
ar.Voltar.Vo
r.Voltar.V
Voltar.



Voltar...
Não mais.
No tempo, ja-não-mais.
Não é diferente como parece.
Difícil. Talvez. Só o que parece.
A alma não padece.

Não é tão fácil...
Não, não mais.

Não, mas
pode ser que será bom.

Voltar.
Sozinha, não vou estar.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Meu Maior Amor

É incrível como os valores atuais estão invertidos.

Estava lendo uma sinopse sobre o filme "A Paixão de Cristo" nesta Semana Santa e fiquei indignada com um comentário infeliz sobre a crítica e o público terem criticado-o por ele ter excessiva violência. Isso soa tão absurdamente irônico. Sexo explícito e Jogos Mortais são normais, lugar-comum, não têm problema, é arte!... Agora, um filme por ser violento ao ser fatídico é um horror, um tabu quase; quer dizer, pode ser carnificina até não ser verídico. Isso pra mim não é nada além de não ter coragem pra encarar uma verdade triste e profundamente dolorosa; é não querer tomar parte e assumir culpa. Porque quando a Verdade vem, incomoda demais.

Os valores atuais realmente estão invertidos.

Culpar a Igreja pelo seu dogma em relação a aborto é moda, mas criticar uma mãe negligente, jamais! Ler um livro qualquer que seja renomado e achar que sabe tudo é cultura; procurar desvelar e verdade é perda de tempo (é mais fácil falar que tudo é relativo). Cultuar a premiação fácil de 1 milhão de reais é correto; ajudar com essa quantia quem realmente necessita é banal. Seguir preceitos de religião conforme ela prega ou praticar pequenas penitências é bitolação; alucinar-se na academia todos os dias em busca do "físico perfeito" é legal. Parem o mundo que eu quero descer!

Todos os dias são ofertas de conversão, mesmo nas pequenas coisas. Todavia, a Semana Santa é uma ótima oportunidade de realmente efetivá-la. É mister, vital, imprescindível meditar a fundo os valores que tecem nossa vida, o que nos norteia. É tanta informação no mundo, tanta besteira supérflua cobrindo tanta coisa de maior grau, que ficamos atordoados, sem saber para onde olhar. É preciso ter cuidado.

O que guia a sua vida? O que guia a minha?
O que estamos fazendo de útil para o mundo?

Para onde vamos assim?

Perguntas retóricas (eu sei, sou cheia delas!). As respostas são claras, e no fundo, nada relativas.

Há pessoas que acreditam que religião não deveria exisitr porque é motivo de discórdia; pois eu discordo. Religião é religar a Deus e, por mais que tenha caído no hábito vulgar hoje em dia inventar qualquer uma pra satisfazer caprichos próprios, é essencial religar-se a Deus. O problema não é religião: é o que o homem faz dela, transformando algo bom em guerra tão somente por orgulho. Outros simplesmente postulam essa opinião por, na verdade, saberem o quanto exige ser alguém coerente com o que é verdadeiro, como custa fazer o Bem, e o deturpam de modo a aliviar seus fardos. E não falo só no cristianismo ou só no catolicismo: em todas religiões, ser coerente é exigente. É comum defender uma postura permissiva, relaxada, medíocre. O pior, o mais triste é morrer na praia... Não por falta de forças, mas por se recusar a aplicar as forças que se tem.

Por isso, aproveitemos essa época tão propícia para buscar o que há de mais pungente, buscar a Verdade. Porque ela existe, sim, e negá-lo é apenas um modo deplorável de não encará-lo. Há de se lutar bastante: entregar-se ao amor pelos outros, lavar os pés uns dos outros, rezar uns pelos outros (principalmente pelos que não amamos)... amar uns aos outros, fazer o Bem uns aos outros... Isso custa muito e foi tudo que Ele fez. E tudo que Ele sofreu, o sofreu por nós: prova de amor maior não há!
É duro de aceitar, de admitir, de ver, mas é o que é.

E o filme é mais tão triste e tão belo antes por ser mais realista do que qualquer outra coisa. Não há mais porque usar palavras. É só assistir.

Busquemos as respostas. Transformemo-las em atos reais.
Boa Páscoa para todos!

"Ecce Homo!"

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A arte de preservar um tesouro

Qual é a fórmula pra se recuperar de uma decepção?

Pergunta retórica.
Todos sabemos que não há fórmula.
Há meios para não se deixar levar novamente. (Dizem.)

É como um golpe. Um golpe certeiro que deixa sem ar, sem ânimo, sem vida, por algum momento que seja. É um golpe na parte mais emocional do cérebro, que se reluta a absorver tal choque elétrico em seus neurônios. É um golpe certeiro no meio do coração, que bate devagar e com uma dor que se estende lentamente, matando esperanças uma a uma no caminho. É um golpe na alma, que fica nua, cheia de vergonha e pudor.

É dor. Dor pungente, latente, permanente.

É algo que é pra ser, que não "mata", "ensina a viver", mas que nem por isso deixa de ser extremamente doloroso.

Um dos maiores erros que um ser humano pode cometer é pensar que porque não é capaz de fazer certas coisas os outros também não o são. É pensar que os outros com os quais se relaciona se valem dos mesmos escrúpulos nas atitudes para com os demais. É imaginar, num mundo imaginário distante do real, que os seus valores e que aquilo que julga até hediondo também regem a postura de terceiros. Enfim, é se iludir pensando que os seres humanos são tão iguais a ponto de terem os mesmos cuidados com os sentimentos alheios.

Desde crianças, nos parques infantis da vida, somos ensinados a não falar com estranhos. Isso se pauta por um princípio: a desconfiança. Ao longo do crescimento, vozes reverberam com os mesmos dizeres: "Nunca confie completamente, tenha sempre um pé atrás com as pessoas". Mas nunca trazemos isso de fato para nossas vidas até aprendermos, sozinhos, com as decepções que o tempo traz. E então, as vozes ecoam, na ópera do "Eu avisei", numa fúnebre sinfonia. O tempo todo estamos tomando porradas, e ainda assim, quão tolos, nunca deixamos de confiar. Nos comprometemos a ter o pé atrás. Firme. Pronto. Mas novamente a fragilidade da alma sempre sussurra de maneira até sedutora: "Vai... esse é de confiança... ponha a mão no fogo por ele... Deixa o pé andar." Sempre acabamos vendo aquele pé atrasado ser puxado por uma força sobrenatural... Até ficarmos sem as duas pernas, sugados por um buraco negro no qual não perdemos o tato do chão, apenas, mas o tato do nosso corpo inteiro. E como não sucumbir, não é mesmo? É tão bom. Pelo menos se não quebrarmos ambas as pernas em uma queda.

Claro, tomem partido e assinem embaixo os que simpatizam comigo e se sentem como eu. Mais uma vez, fica difícil partir do pressuposto que divergimos tanto uns dos outros.
Porém, há um consolo: o amor verdadeiro é mais forte e tudo supera.
Por isso, eu sei, e sei de coração, que na minha vida, graças a Deus, existem aqueles pelos quais eu posso arriscar e soltar os dois pés sem medo. Que eu sei que não, NÃO são capazes de me magoar... Podem errar, afinal, nisso, sim, todos somos iguais. Mas me magoar e me desprezar... jamais. Porque não são quaisquer uns: são especiais. E a eles sou eternamente grata, porque por causa deles eu continuo acreditando na bondade das pessoas.

Acreditar na bondade do ser humano. Quantos conseguem provocar esse fabuloso e raro sentimento dentro de você? São muitos? São poucos? Pois dê valor a eles. Dê muito valor a eles, sejam quantos forem. Porque, ao longo da vida, essa estrada que tanto parece não ter sentido nem rumo, eles vão estar constantemente provando esse valor. Como? Estando sempre ao seu lado e nunca desperdiçando a confiança neles depositada.

A entrega na amizade verdadeira. A confiança no amor genuíno. Isso existe, não obstante todos os socos e facadas que cravam nosso coração e deixam cicatrizes para a vida inteira.

Por isso, desconfie, pois desconfiar é saudável. Novamente: não acredite que os outros não são capazes de fazer certas coisas porque você não é, pois alguns muitos deles são capazes, sim, até de coisas muito piores. Não porque são pessoas ruins, mas muitas vezes porque estão fechadas em seu próprio mundo de egoísmo, encerradas nas muralhas dos seus caprichos, vontades e deveres.

Mas não vá se encasular em total suspeita com os outros. Não! Não vá ficar amuado, receoso de dar a mão para o outro apertar, com medo de que a esmague. Agindo assim, você vai se tornar igual àqueles egocêntricos, tão narcisos no espírito. Eles se julgam auto-suficientes e muitas vezes, não medem suas atitudes para com outros, talvez, secundários. Precisam não de ódio, mas de ajuda.

Confie. Confie, sim; com cautela, mas confie. É um jogo de acertar e errar. Mas quando encaçapas, a sensação recompensa, porque você ganha mais alguém para amar sem medo. E quanto aos outros que amou sem medo e não mostraram mérito, bem, não fique aflito pensando que a culpa foi sua, que você é idiota, inocente demais. Não. Porque o erro foi deles. Quem perdeu foram eles. Espera-se que se dêem conta da perda em tempo de, com esmero, recuperá-la...

Tudo o que se faz ou fala volta, em algum momento, em uma situação inusitada ou da boca de alguém que não se esperava ouvir.

A Confiança é como louça de porcelana, frágil e bela. Quebra-se em cacos com apenas um peteleco displiscente. Você pode colar tudo, meticulosamente, com a maior Super Bonder que conhecer. E pode ser que volte a ficar parecido. No entanto, raramente será a mesma coisa.

Não dê o prêmio que é a confiança de graça, à toa. Valorize. Não a vulgarize.
Mas também não recuse a qualquer um que transita em sua vida. O ser humano só é feliz de verdade quando se doa.

Quem vive sozinho, definha sozinho.

"In God, we trust."