O fim do ano 2009, aos poucos, anuncia nas esquinas, nas luminárias das janelas, no clima etéreo que se propaga, aos poucos, tal como uma massa de ar leve, de brisa fresca, nas guirlandas já penduradas, ou ainda que seja nas promoções das vitrines comerciais, mais uma celebração do Natal e a chegada de 2010. Mais uma vez, o Nascimento. Nascer de novo. Um novo ano. Uma nova década. Uma nova chance de fazer o velho novo e o novo, velho também, porque dá lugar a outros ventos (que, apesar de inéditos, não arrastam o que, por ser antigo, é de imensa importância).
Assim também, muitas vezes, somos abordados pelo desconhecido que vem. São bastante frequentes as ocasiões em que sobrecarregados por trabalho, deveres, obrigações, somos abatidos, fatigados pelos fardos recaídos em nossos ombros, desolados por não senti-los mais leves e, sim, cada vez mais pesados.
É assim que muitas pessoas humildes levantam de suas camas, tomam seus cafés-da-manhã modestos, pegam seus ônibus de madrugada, andam tal qual errantes nos mesmos caminhos rotineiros, debaixo de sol tórrido ou de chuva torrencial, de calor modorrento ou frio rasgante, rumo ao labor, ao batente: e é assim que se sentem ao ver as perspectivas para dias diferentes desses tão melancólicos e difíceis se tornarem poucas e turvas e ao não enxergar, por mais que se investigue, sintoma de melhoras, daquelas significativas, a priori. Mas é também na sua humildade que, com fé, ao pé da janela de casa ou diante da janela dos autos, depositam sua confiança na alvorada. E vêem simbolicamente no Sol, o qual não parece nunca presenteá-las com novidades ou preconizar mudanças, de aparência imutável, como o despertador monótono de um relógio batendo todas as manhãs, a Esperança vir à reboque de um novo dia. Não são levados por algum motivo extraordinário a crer em renovações. Não são despertados por uma súbita e falsa crença na vida. Simplesmente, não mais que simplesmente, na sua fé, contagiam-se pela Esperança que o Sol lhes incurte ao nascer, renascer, belo e imponente, na madrugada das manhãs.
As comparações são muitas. O nascer do Sol é algo miraculoso, magnânimo. Sintetiza perfeitamente todas as reações, sejam químicas, físicas, biológicas ou sentimentais fervilhadas quando algo está a caminho. A luz dourada, o deitar delicado dos raios solares em cima dos prédios, trazendo mais um dia para as plantas, florescendo-as, e os pássaros e animais, preparando-os para a chegada da Primavera. Aos homens, a fim de aquecer e iluminar suas noites internas. Traz luz, calor, alegria, vida. Nos invernos mais longos, solitários e frios, derretendo os gelos secos e os úmidos, trazendo os sorrisos de volta às suas faces. Realmente, o alvorecer é muito subestimado. Infelizmente, é raro nós pararmos para reconhecer o que ele é e o que nos traz todos os dias, seja no sentido denotativo ou no conotativo, pelas relações com as quais se estabelece, pelas metáforas que nos traz, pela poesia que enfeita.
É comum eu me sentir assim: lúgubre, triste, enclausulada nas minhas próprias e ínfimas dores. Mas o Sol vem com seu poder desintegrar o casco formado, por mim mesma, ao meu redor. É indescritível a sensação de sentir isso acontecer, de ter noção da força vinda desse Sol às vezes, sem presentes, porém, sempre presente. E é, da mesma forma, impossível dizer em palavras a gratidão que eu sinto por ter esse conhecimento em mente.
Ele não se desenvolveu espontaneamente, por minha conta e responsabilidade. Não, senhor. Ele veio com a música. De alguém muitíssimo especial, que, graças a Deus, transmitiu-mo com toda a ternura possível, a simplicidade e musicalidade que emociona e fixa esses sentimentos dentro do meu coração, para que toda a vez que eu tenha um acesso íntimo a esse nascer, recorrendo à sua música, sem necessariamente precisar ver o ensolarar na janela; já está fincado no meu imaginário (apesar de que, quando ouço a canção e vejo a cena retratada ao vivo, é indubitavelmente mágico).
Foi ele quem criou essa perspectiva em mim, e sou-lhe imensamente grata. Da mesma forma, a passa, pela universalidade de sua bela música, para todos os seres humanos, sem qualquer acepção, como era caracterísitico de sua pessoa: é por isso que tantos corações foram, são e serão conquistados. Para que também creiam em dias mais luminosos. Um toque especial e irreversível na alma. Passou-nos valores de fé em Deus, de simplicidade, de discrisção, mas de amor, grande e preocupação e olhar atento aos sofridos ao redor do mundo. E, especialmente agora, 8 anos depois da partida para fora do mundo material em que vivia, que espero e rezo para que ele se encontre além do Sol.
Lá vem ele...
George Harrison - Here Comes The Sun
Here comes the sun, do do do do
Here comes the sun, and I say
It's all right!
Little darling,
It's been a long, cold, lonely winter
Little darling,
It feels like years since it's been here
Here comes the sun, do do do do
Here comes the sun, and I say
It's alright!
Little darling,
The smiles are returning to their faces
Little darling,
It seems like years since it's been here
Here comes the sun, do do do do
Here comes the sun, and I say
It's al right!
Sun, sun, sun, here it comes!
Sun, sun, sun, here it comes!
Sun, sun, sun, here it comes!
Sun, sun, sun, here it comes!
Sun, sun, sun, here it comes!
Little darling,
I feel that ice slowly melting
Little darling,
It seems like years since it's been clear
Here comes the sun, do do do do
Here comes the sun, and I say
It's alright!
Here comes the sun, do do do do
Here comes the sun
It's alright!
It's alright!
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Tudo na escuridão fica mais colorido depois que vem o Sol.
Essa é não é a melhor homenagem que eu poderia prestar a esse grande homem, músico, personagem. Nunca poderei fazer uma homenagem à sua altura; porém, tentei justamente fazer algo singelo, que combinasse com sua personalidade, e transparecesse de maneira leve e clara a minha grande admiração e incomensurável afeição por ele. Tentando, é claro, fugir um pouco da minha pieguice usual. Não sei se consegui, mas se não, me desculpem: a expressão dos sentimentos é limitada até certo ponto!
25/02/1943 - 21/11/2001To the loving George, in very much loving memory!