Inédito: estou atualizando meu blog menos de um mês (do ano de 2008) após a última postagem! (Palmas)
Já estamos há tempos no advento, período de preparação para o Natal. Jingle Bells já soam nas lojas, o Papai-Noel já faz sua abiogênese em cadeia nas mesas de cabeceiras da sala de estar, as guirlandas já fazem as honras da casa nas portas. Presépios são deslocados e colocados, à espera pela vinda do menino Jesus (será que é pra isso?). Os enfeites, as lâmpadas, todo o espírito surgindo, todos os sinais aparecendo, tudo se formando desde o mês de... outubro?
Pois é, ao que me consta (atirem-me pedra se estiver errada) é que essa maratona toda foi largada em meados de outubro. Ok, uma colher de chá, foi mais para o final daquele mês. Truque de marketing cristalino, convenhamos. Afinal, necessita-se de 2 meses para ajudar-nos a colocar o cartão de crédito no vermelho? E eu me incluo nisso, porque o consumismo é forte! Já até disse para minha mãe que acho que existem roupas demais no mundo e que isso só me atenta a olhar mais as vitrines, e atiça mais ainda minha mão a coçar pelo meu bolso (que não corresponde tanto às expectativas).
É a correria... A ansiedade da sociedade, em ver que o tempo está passando, em querer ser prático e se adiantar. Em competir pela melhor mercadoria, em gastar dinheiro (porque fazer isso, sim, é muito prazeroso), em, inspirando-me em minha irmã, "hacer un regalo".
Nada de errado; é normal (notem que isso não é um incentivo ao débito!). Mas só isso, e isso unicamente, dá um vazio tão grande! Outro dia experimentei essa sensação. Tinha visto uma sandália linda numa loja, que aparentemente ficaria ótima no meu pé, ainda sofredor do mal do joanete. E, no meu caso, é muito difícil achar um sapato que não incomode. E ainda tinha um lacinho (sou doida por eles)! Mas vi há muito tempo, e esqueci. Quando resolvi voltar, experimentei a amargura de deixar tudo pra depois e não consumir o que tanto se deseja: não tinham mais o meu número. Patético exemplo, eu sei. Mas aquilo me deixou com uma cara de enterro! (Um minuto de silêncio pelo sapato que não comprei).
Vamos ser compreensivos, também: as fábricas e sapatarias têm preconceito contra pessoas que têm joanete! Esses excluídos da sociedade, para eles, hão de recorrer a um Dr. Scholl da vida, um podólogo, fazer sapato sob medida ou só usar Usaflex. Também, quem mandou eu demorar, né.
Mas tá, não fujamos do assunto. É chato, sim, mas não é nada sério. É frustante, mas não é imprescindível. Claro que não, posto que existem tantos que nem usufruir de uma Havaiana parecem ter direito.
E é esse o ponto de vista que quero abordar. Uma vez conversava com uma moça pobre, humilde. Ela me contava que sempre andava descalça por aquele chão batido de terra e, no entanto, esbanjava simpatia, contando-nos que nunca tinha tido um problema de saúde sério. Realmente, não sei como; mas lá estava ela, descalça, desprovida do "luxo" de usar um sapato e com um sorriso bem maior que o meu no rosto. Isso só mostra como é humilhante o meu luto por uma sandália. Mas é uma coisa que já é consuetudinária àqueles que provém de uma boa condição de vida, que os permite obter essas pequenas coisas: se indignar por besteiras. E, quando não se tem sucesso, afundar-se num vazio tão superficial quanto a necessidade de obtê-las .
"10. dez. 2008 - BRASÍLIA - A Defesa Civil de Santa Catarina confirma uma nova vítima das enchentes no estado. Agora são 123 mortos, além de 29 desaparecidos. O número de desalojados e desabrigados chega a 33.399." (Fonte: http://www.dci.com.br/)
Esses episódios tão tristes trouxeram grande pesar às nossas páginas de jornal no último mês. O verdadeiro luto. Os verdadeiros pêsames. As verdadeiras condolências. E um vazio muito mais profundo, provocado pela visão da degradação da vida humana, pela morte e pela dificuldade de superar a ida de entes queridos.
Mas nem tudo são más notícias...
"O ritmo das doações continua crescente. O Fundo Estadual da Defesa Civil de Santa Catarina, destinado à população afetada pelas fortes chuvas no estado, já arrecadou R$ 22.239.726,05."
Eu realmente fiquei muito comovida quando vi, no Jornal Hoje, os moradores de favelas de São Paulo se mobilizando para juntar roupas e mantimentos afim de enviá-los aos necessitados em SC. Tanta gente com terno e gravata que se isenta desse peso que é a responsabilidade social para com os debilitados, ainda que não morem no mesmo estado, ou sequer pelo fato de morarem no mesmo país; mas sim por se tratarem de seres tão humanos quanto.
E de certa forma aquilo me espantou, porque a matéria era voltada no seguinte assunto: "Por que todo o Brasil está ajudando Santa Catarina?". "O que faz pessoas de todo o país se mobilizarem pelo bem de outras que nem conhecem?" Calma aí, precisa de uma psicanalista, psicóloga, não sei, para dar uma resposta pra isso? Posso estar sendo radical, mas não basta pensar que eles precisavam e isso é primordial? Chegamos a tal ponto da sociedade que você tomar iniciativa por pessoas que estão em apuros é um ato surpreendente, vulgo heróico. Algo digno de super-heróis com visão de raio-X, kriptonianos (sei lá qual é a nacionalidade) e algo natural somente deles. Chegamos a tal ponto de individualismo e egoísmo circuncidando a todos que não se vê mais isso na TV ou no próprio cotidiano, pois estamos preocupados em encher nossos olhos e cérebros com a "junk-food" exibida em horário integral na mídia. E essa (in)digestão em nada nos nutre a alma. Tanto que, agora, é difícil compreender boas ações. Pasmem. Por favor, pasmem!
Mas como é bom que, ao menos, a mídia esteja cedendo o foco para esses assuntos tão alarmantes e os quais, é indubitável, deve-se dar grande atenção. Embora seja suspeita a intenção de alguns, por não sabermos se a doação de uma fortuna é fruto de filantropia ou auto-propaganda. Sim, porque ao vê-los, tantos se sentem animados a fazer o mesmo! Para imitar um ídolo unicamente? É, infelizmente, em alguns casos, sim. Porém, estão ajudando, e isso é o que importa. Deveríamos fazer mais isso, com mais frequencia, tornando caridade não algo admirável por sua raridade, mas corriqueiro por sua beleza e naturalidade.
Ainda mais comovente foi ver um senhor realmente humilde, creio que levando sua contribuição para um posto da Defesa Civil de SC, abordado pelos repórteres, declarando o porquê de estar fazendo aquilo: "se eu estivesse passando por isso, gostaria que me ajudassem". Não posso dar certeza da precisão da fala, mas foi essa a mensagem que ele transmitiu. E resumiu tudo que quero dizer. Quereríamos ajuda também, se fôssemos nós. Para se ver que não é necessário ser alguém escolarizado para entender. É só ser alguém sensível.
Pois é, essa é falta que faz uma coisa que minha mãe me ensinou, o que Moisés disse aos hebreus, que o Cristianismo prega e que todas as religiões que realmente buscam religar-se a Deus, no seu cerne, querem dizer: "não faças ao teu próximo o que não queres que ele faça contigo." Melhor adaptando no caso: "trate os outros como gostarias de ser tratado(a)". A Lei do Amor, na verdade; tão melhor do que a pena de Talião! Porque, como diria Gandhi, o olho por olho nos deixará todos cegos.
Esse egocentrismo todo, inerente a cada um de nós, precisa ser o verdadeiro objeto de batalha. É mister, sim, lutar contra essa ganância, contra esse mal do século, e de tantos séculos, que é querer que toda e qualquer ação tenha algo em troca para benefício próprio; que seja, na verdade, em prol de si mesmo. Fazer o bem não é algo pitoresco apenas de jardim de infância ou lição da bronquinha da mamãe: é algo que deve ser genuinamente praticado, todos os dias, de todos os anos, e não apenas no dia de Natal. Caridade não se remete a ocasiões que, por si mesmas, já são amistosas (ou ao menos deveriam ser); é todo dia um pouco. Em casa também, por quê não? As carências são muitas, e suas formas, diversas.
É necessário dar as caras, como John Lennon fazia, assumir o compromisso de ser um humano (que é enorme, e exige muito, sim!) e não se omitir em nome do comodismo. Ser acomodado é algo tão ruim, tão... ermo, sem graça e sem cor. Mas quando fazemos o certo, nos sentimos mais cheios, não de nós mesmos, mas dos outros. Se é para receber algo em troca, saiba-se que somos muito mais enriquecidos dessa maneira, porque ficamos ricos de tantas coisas mais importantes: amor, visão de mundo, compaixão. Sim, compaixão, que é um sentimento tão capaz de mudar o mundo, pois trata-se de se colocar no lugar do outro, apesar de ser tão complicado sair do nosso próprio. A sensação de retorno é tão boa, melhor impossível, a melhor espécie de "catarse"! Como dizia George, na música "Within You, Without You": "quando você enxergar além de si próprio, então talvez descubra que a paz de espírito o espera."
E o vazio supérfluo é preenchido. Citando Gandhi mais uma vez: "O melhor jeito de nos encontrarmos é nos perdermos no serviço aos outros". Temos tantos a quem nos espelharmos: Madre Teresa de Calcutá, São Francisco de Assis, Papa João Paulo II, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Princesa Diana, Bob Geldof, Bono Vox, o próprio Gandhi, Martin Luther King... Jesus Cristo, principalmente.
O tempo de renovação esta aí, pessoal. Renovemos nossos corações para celebrar de novo o Natal, tão belo, tão amigável, tão puro. Levemos esse espírito de paz e amor por todos os dias seguintes, ainda que possa estar um pouco diluído. Podemos, sim, com esmero, com amor. Tiremos mais roupas do armário para doar, repartamos mais a comida e o dinheiro, tenhamos fé nas pequenas coisas... O exemplo é o melhor professor.
"Pense globalmente, aja localmente."
"Imagine all the people living life in peace"
"Imagine all the people sharing all the world"
"Raising the spirit of peace and love"
"Precisamos manter a esperança viva, pois sem ela, todos nós vamos naufragar."
"A vida é o que acontece enquanto você está ocupado, fazendo planos."
"We're all water from different rivers
That's why it's so easy to meet
We're all water in this vast, vast ocean
Someday we'll evaporate together"
(Todas por John Lennon, in loving memory)
Nenhum comentário:
Postar um comentário