quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Retrato mal-falado




Não se aproxime de mim
Se na sua displicência
For exibir seus talentos de ator
Não venha tentar me conquistar
Me fazer entregar afeição em pétala de flor
Se pretende devolver um miolo mastigado
Fruto da falta de um amor

Às vezes não durmo no meu sono
Não choro minhas lágrimas
Não sofro em minha dor
Às vezes sou tantas coisas contínuas
Que não sei mais exatamente quem sou

Não falo por mim mesma
Falo por alguém que sei que sou.

Agora fiquei assim
Desse jeito estranho
Depois que tudo passou
Com medo de olhar além do muro
Que com seus arames me perfurou
Os arames da paixão que nutri
E que por fim me encasulou

Às vezes sou uma estranha
Dentro de sua própria fortaleza
Alguém que não lembra de onde veio
E não sabe bem por onde entrou

Não falo só por mim mesma
Falo por alguém que está onde estou.

Não se aproxime de mim
Se porventura tiver aversão
A alguém quer fugir e se esconder
Do tal famigerado padrão.
Sou maluca, sim, senhor!
Não sou normal por não ter razão.
Não incite ou inflame meu afeto
A bel prazer, só por diversão

Às vezes volto a pensar alto
Em tudo que sobra do que ficou
Às vezes volto a chorar baixo
As lágrimas que nenhuma mão secou.

Não falo por mim mesma
Não, senhor...
Falo por alguém que você deixou.