segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Down with the High Society!

De volta à Era Jurássica. Sim, pois foi nela que abandonei meu blog. Não obstante, retornei! Por quê? Porque estava entregue às moscas. Porque sempre retornamos à música que cantávamos. Porque minha sina é escrever. De tudo um pouco. Considerando que, pode-se dizer, abandonei a idéia de fazer Jornalismo, é mister que eu tenha um lugar para extravasar essa latente necessidade, que desperta de vez em quando, sedenta de expressar suas introspecções.

Mas escrever sobre o quê? Já é visível que minha cabeça está parecendo uma teia, um emaranhado de pensamentos ilógicos e insensatos. Penso tanta coisa e quanto mais faço, mais sinto que nada sei. "The more I learn, the less I know". Sim, sim, Beatles, naturalmente! Essa aí foi solta pelo George, em "It's All Too Much". Ele, com seu jeito reflexivo, brilhante, me faz refletir sobre tantas coisas e sempre canta ou diz uma frase que me faz pensar ou identificar-me, principalmente no presente momento. Eu realmente estou numa fase bem "George Harrison" da minha vida. It's all, indeed, too much!

Well...
O mundo.
Cada vez me sinto mais um bicho esquisito dentro dele. Dãr, novidade. Todos nós nos sentimos, ao menos uma vez na vida, estrangeiros dentro de nossa própria soberania.

Famosidade. Que divertido é saber da vida dos artistas! Sim, sim, pode ser bem interessante. Mas o que revira o fundo do meu âmago é a incompreensão que me acomete quando vejo a, a imprensa dos tablóides ir atrás de toda e qualquer calcinha de celebridade que aparece entre um vestido curto dentro de uma limosine. "O ex de Susana Vieira curte praia no Rio de Janeiro". Quem diabos é o ex dela?! E no que isso afeta minha vida? Ah, sim, sim, interessante. Mas chega. Cada vez que abro a página globo.com vejo alguma coisa sobre o bendito ex da Susana Vieira. Que ele tem um novo "affair", que ele curte a praia com uma loira, que a Ana Maria Braga diz que ele é um cafajeste... O infeliz já não tem nem mais nome, só codinome: ex da Susana Vieira. Blá blá blá. Mas veja que ironia: eu falando mal dessa atenção toda a ele e, no entanto, gastei sete linhas dissertando sobre ele, ainda que indiretamente. E nem falei nada sobre a Luana Piovanni! Oh, well...

Tem coisas que não dá para acreditar. Outro dia, folheando uma revista para um trabalho, me deparo com uma pequena janelinha - "Bebendo direto da fonte. Daniele Suzuki em meio ao calor escaldante do Rio de Janeiro, não liga para copo: bebe direto do gargalo da garrafa num restaurante da Zona Sul."
....
What the hell?!
Sim, sim, há muito mais coisas úteis com as quais chocar-me, indubitavelmente. No entanto, faça-me o favor. Por que não deixar a pobre da moça se hidratar em paz? Ah, não, ela tem de seguir as regras da Socila 24h por dia porque ela é uma personagem social. Sim, as convenções do universo da fama estão acima de qualquer casualidade. Qualquer desculpa para cobrir a mesquinharia e mediocridade na tentativa de fazer matéria, seja qual for. Ah, Mulher Melância faz sucesso em Nova York! E isso me interessa porque...? Já é triste demais que alguém que faz lipo e coloca a gordura no traseiro faça sucesso aqui no Brasil, e todos acharem tão engraçado ou bonito (?), quanto mais saber que ela faz sucesso, ainda não entendi por que, no exterior. É assim que se consegue fama hoje em dia? É esse caminho que devemos almejar?


Mas abram alas! Aí vem a 9a edição do BBB: Big Bosta Brasileira. Ah, desculpe, me exaltei. Não aguento mais! Mais uma cambada de improdutivos para agir como naturais carnes inertes durante 3 meses (?). Nossa, isso soou tão capitalista selvagem. Porém, convenhamos: tanta gente trabalha de sol a sol, sob risco de vida, dando o suor do seu rosto para ser engabelado por autoridades, pagar impostos sem retorno em suas vidas e ganhar uma mixaria, e esses ilustres "grandes irmãos" ficam não sei quantos dias numa casa ornada pelos mais tecnológicos equipamentos e modernas regalias e ganham 1 milhão de reais? O que eles fizeram de bom para o mundo, para outras pessoas? Distraíram dos seus problemas. Não, meu caro. Contribuíram para a velha política do 'pão e circo'. Olha lá, assiste Big Brother, a fulaninha bateu na cara da cicraninha e chamou ela de biscate. Aí se desfiam comentários para a semana inteira: dentro do ônibus, do escritório, na fila do banco, do orelhão, na sala de espera, no salão de beleza. Mas, e aquele governador corrupto lá que ia ter seu mandato cassado? Ah, esquece, vamos ligar pro 0800 e votar no Suíço, porque o Alemão já ganhou! O pior é quando se assina Pay-per-view para ter acesso o dia inteiro à casa mais famosa do Brasil! Valha-me! O pobre telespectador (nem sempre um telespectador pobre) gasta dinheiro para dar uma fortuna a alguém que só fez inutilidades durante tamanho espaço de tempo! São muitos dias para tanta superfluidade.

Ei, mas, um momento: Rede Globo não exibe BBB pra fazer caridade. Todos ali estão, comumente, lutando para subir na vida e ganhar dinheiro. Que belo modo, hein. Modo honesto, trabalhador, íntegro! Acrescenta tanto ao patrimônio cultural da humanidade. Enquanto tantas pessoas seguem suas jornadas de 40 horas por semana (ou mais), não residindo, por sua vez, em coberturas luxuosas ou apartamentos nos braços da praia, eles estão lá, nas festinhas, nas bebidas, na piscina e hidromassagem, nas suas atitudes de baixo calão. Mas eles passam fome! Às vezes. Uma vez. Para entreter.
Bem, então façamos um BBB em Serra Leoa. Na, exagero.
Pois é, já está se tornando algo patológico, começando a puxar a sardinha para o verdadeiro Big Brother de Orwell: controlando vidas, manipulando meios de comunicação, com o disfarce de simples diversão.

Teste de sobrevivência é "Survivor - No Limite". Isso é testar o limite da convivência humana. No meio da selva, tendo que passar fome, comer "iguarias", sufoco total. Isso, sim, é dar valor ao que se tem em casa. Há tantos realities shows tão mais interessantes (para os amanteigados, cuidado: "Extreme Makeover - Reconstrução Total" é promessa de lágrimas em todos os episódios!). Big Brother Brasil é mais uma ferramenta de fácil alcance que, infelizmente, mobiliza o Brasil inteiro, para alimentar a vaidade e a sede por fama, essa que se consegue sendo mais uma marionete, e não por mérito próprio; essa que não dura nem um ano, a menos que se vá fazer comercial, trabalhar em novela ou sair em capa de revista. Mais um modo de controlar a população, de "anestesiá-la" das dores cotidianas. Mais um motivo para nós, brasileiros, termos a fama de "malandros" no exterior: algo que era pra entreter uma vez virou objeto de inércia tantas outras vezes, para ganhar dinheiro fácil. Afinal, essa já é a nona vez! Ninguém enjoa, não?

Escusa! Foram apenas tentativas de ilustrar um ponto de vista. Não falo que isso é de agora, porque as disputas de gladiadores no Império Romano foram o berço dessa triste política que se perpetua na humanidade. Devem ser tendências genéticas que a Seleção Natural ainda não conseguiu eliminar (Darwin, certamente, não teria uma teoria científica pra isso). O problema é que algo que a início, supostamente, era para ser algo bobo, ingênuo, pura distração, começa a se tornar algo perigoso, controlador, e, no mínimo, enfadonho. São tão corriqueiros esses fatos que já achamos normal nos depararmos com as mesmas coisas, o mesmo sensacionalismo. O tempo que perdemos com isso é o tempo que poderíamos estar usando para assistir algo mais lúdico, educativo, cultural, que, ao menos, acrescentasse algo. O tempo que escorre desperdiçado nessas atrações é o tempo que seria tão útil para prestarmos atenção na bagunça em que o mundo se encontra e, sem embargo das falcatruas de tantas pessoas anti-éticas, tentar descobrir meios de consertá-la no que pudermos.
Longe de mim querer julgar quem assiste ou lê esses meios comunicativos. Também já assisti novela e vejo alguns episódios esporadicamente: existem novelas que acho boas, sim, que contribuíram algo no meu intelecto (mesmo que para alguns isso seja paradoxal). Também já li, e ainda dou uma olhada na Revista Caras de vez em quando. Têm coisas interessantes, é legal saber de certos artistas que admiro ou não, até para me inspirar em fazer igual o que for bom e contrário o que for mal (Amy Winehouse que o diga! Andei lendo frequentemente acontecimentos sobre seu lamentável trajeto, embora ache-a uma cantora muito boa); para analisar o que a fama traz. O problema é quando se afoga demais nesse universo e esquece-se do próprio, que não é cor-de-rosa e repleto de borboletas. A partir daí, é nocivo. Não que o pedestal da Fama esteja longe do alcance de meros mortais como nós. Não. E não acho um absurdo querer conquistá-la: todos buscam reconhecimento. No entanto, é preciso trabalhar bem no que queremos ser reconhecidos. E que isso não seja fútil, mas que venha a adicionar algo de bom na vida de quem nos conhece ou virá a nos conhecer. Porque esse mundo de High Society é colorido e bonitinho em Gossip Girl, mas se os que não se incluem nele mergulham pela aparente beleza do seu reflexo, correm o grande risco de ou se afogarem ou ficarem fadados a aplaudir e vidrados em observar algo que sempre, por causa de suas próprias atitudes, ficará longe de suas mãos, distante, inalcançável. É necessário observá-lo com cautela. Realmente, esse mundo não é para todos.

Mas deixa estar. Uma vez acharam um absurdo eu não acompanhar novelas porque, desse modo, não tenho como saber do que acontece no mundo... (pausa silenciosa).... Eu sei, eu sei, melhor nem falar sobre isso, senão dá um novo post. Basta saberem que Manoel Carlos é meu novo William Bonner.