segunda-feira, 16 de agosto de 2010

As cores do Rio de Janeiro

Praia de Botafogo, de segunda a sexta, por volta de 1 hora da tarde. Provavelmente, lá estarei eu, no ônibus do metrô, dirigindo-me à faculdade. E é nesse cubículo móvel que começo a apreciar, devagar, as cores do meu Rio de Janeiro.

Vinícius de Moraes escreveu uma belíssima música - novidade! - sobre as cores de abril, título homônimo. Sentiu-se compelido a fazê-lo pelas tardes de abril e suas tonalidades, na cidade maravilhosa. Não o desminto, porém também não o parafraseio. Prefiro falar das cores que enchem a cidade todos os dias do ano.

Voltando ao ônibus. Às vezes, em meio a esse trajeto, estou lendo algum texto como tarefa da faculdade (frequentemente, tendo que ler com rapidez, porque a leitura já era pra estar concluída!). Mesmo nessas ocasiões, entretanto, é impossível, ao menos para mim, conter o movimento instintivo que meus olhos fazem, ao se erguerem para a direita e avistarem o Pão-de-Açúcar. Ah! Às vezes acho que as pessoas à minha volta devem pensar que sou uma turista, devido à expressão estampada no meu rosto, abobalhada, embasbacada, sorridente, sem conseguir esconder a admiração pela natureza, pelos presentes de Deus. E por que iria escondê-lo? Tenho mais - temos mais - é que ficar contentes e agradecidos por presenciar uma cena dessa qualidade. E eu, ainda mais, porque tenho o privilégio de ter essa vista presente em praticamente todos os meus dias!


Pergunto-me por que cargas d'água essas visões, colírios para todos os olhos, são tão subestimadas. As pessoas, mergulhadas nos seus afazeres, no trabalho compulsivo (quase compulsório), na preocupação em ganhar dinheiro, subir de vida, consumir, sentir, fazer de tudo, toda hora, aproveitar cada minuto, acabam, pois, não aproveitando nada. Tão absortas em tantas coisas perecíveis, tão encarceradas nos seus objetivos momentâneos, verdadeiras bitolas! Esquecem do essencial, que, no caso, é bem visível aos olhos. Não só é visível, como se dispõe ali, na nossa cara, esperando uma contemplação mínima, dignamente merecida. Para a nossa felicidade! Felicidade tantas vezes preterida, talvez por motivos de pouca importância.

(Ah, quando me refiro a "pessoas", me incluo nesse meio! Dãr.)

Isso não quer dizer, obviamente, que, a partir de agora, vamos todos parar tudo que estamos fazendo quando estivermos passando por algum ponto turístico do Rio de Janeiro e ficar babando. "My point is": amiúde, recusamos presentes maravilhosos que Deus nos dá o tempo inteiro, todos os dias. É claro, temos preocupações, sentimos cansaço, tememos problemas. Mas é exatamente por isso! Nos fins de tarde, é lindo ver como Deus brinca de pintar o céu, misturando cores pálidas e brilhantes, tons e texturas, cirros, estrelas... autênticas pinturas, que nenhum artista poderia criar sozinho. E nos dá de presente! Aos cariocas, as cores do Rio.

Nos dias de sol, é possível até ver as cores do Brasil mesmo. Isso eu presencio não só na praia, mas até na Praça General Osório, caminhando com minha amiga Lívia, ou dentro de minha própria faculdade. Um céu cujo azul turquesa nunca vi reproduzido em nada feito por mão humana. Um verde e amarelo das árvores, tão brilhante. A brisa suave; eu sei, é incolor, mas é o toque final, responsável por deixar a cena impecável. As cores do meu Rio: vibrantes, fazendo vibrar os que se deixam tocar por elas.

Até mesmo agora, olhando da minha janela (e olha que eu não moro em nenhuma Zona Sul, não!), as cores são fantásticas. Um dia de sol, porém cheio de nuvens, algumas mais escuras, outras tais quais algodões. Em meio a isso, até choveu. Não, não veio nenhum arco-íris - que eu tenha visto -, mas aí está: não precisa! Por si só, a cena já vale. São coisas assim que não podem ser ignoradas.

Até porque acabamos, de fato, sendo sempre turistas. A brincadeira divina de tilintar pincéis no céu e nas luzes faz com que o próprio Pão-de-Açúcar nunca seja o mesmo. Não faltam coisas novas com as quais se admirar. Há sempre algo diferente, um ângulo, uma cor, um detalhe inédito. O que não há é falta de motivo para parar e viajar, olhando para elas. Não é preciso muito.

Eu sei, um post meio piegas. Mas eu sou piegas, e esse é o meu blog. Logo, não dá pra esperar nada muito diferente...

Além disso, quando vejo o Pão-de-Açúcar na Praia de Botafogo, podendo, na volta, também ver o Parque do Flamengo, de quebra, ganho uma espiada no Redentor, de braços abertos, entre os prédios. Quer presente melhor para animar o dia?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Trabalho de História da Comunicação



Os conceitos que relacionei nesse trabalho foram Hiperestímulo, Modernidade e os Games.
Os primeiros games, datados do início dos anos 50, eram ainda bem modestos no que tange aos efeitos especiais, devido às tecnologias da época. Porém, aos poucos, foram evoluindo, apresentando cada vez mais cores, formas, ações simultâneas, representações realistas, efeitos especiais rebuscados, chegando até ao 3D. Tudo isso consiste em uma série incontável de estímulos constantes, cada vez maiores. São muitas informações para o indivíduo captar, sendo essa a intenção: a pessoa tem de ser capaz de absorver esse hiperestímulo, característico dos games, com tal velocidade que possa, concomitantemente, responder a esses estímulos e fazer o que é necessário. Quem assim procede, consegue vencer os desafios apresentados.
A semelhança com a realidade em si é um estímulo. E, assim, os games representam a modernidade, não só pela tecnologia acumulada durante esses aos, mas pelo dinamismo, um universo de acontecimentos num único instante, a sequência de imagens diferentes apresentando continuidade. As músicas utilizadas buscaram selar essa rapidez e o hiperestímulo retratado. Quem está acostumado com vida urbana, por exemplo, parece ter mais facilidade. De qualquer maneira, a própria semelhança - cada vez maior - com as ações propriamente humanas (como podemos ver no Guitar Hero) é um estímulo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Hora de Clarice




"A história da nordestina Macabéa é contada passo a passo por seu autor, o escritor Rodrigo S.M. (um alter-ego de Clarice Lispector), de um modo que os leitores acompanhem o seu processo de criação. À medida que mostra esta alagoana, órfã de pai e mãe, criada por uma tia, desprovida de qualquer encanto, incapaz de comunicar-se com os outros, ele conhece um pouco mais sua própria identidade. A descrição do dia-a-dia de Macabéa na cidade do Rio de Janeiro como datilógrafa, o namoro com Olímpico de Jesus, seu relacionamento com o patrão e com a colega Glória e o encontro final com a cartomante estão sempre acompanhados por convites constantes ao leitor para ver com o autor de que matéria é feita a vida de um ser humano."

www.claricelispector.com.br

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So much for the every-day writing... folks!

Traduzindo: não consegui cumprir (ainda) minha meta de escrever, diligentemente, todos os dias nesse blog. À moda britânica. Quem dera!
Mas a estrada é longa, e o importante é insistir em tentar... pessoal!

Resolvi dedicar o post ao livro que acabei de ler essa semana: A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, escrito em 1977.
Eu poderia bancar a pseudo-intelectualizada-esclarecida-sobre-os-artifícios-sombrios-da-alma e dizer que captei o âmago desse romance de Clarice, abstraí seus sentidos e cheguei ao nirvana de sua mensagem central. Mas seria tudo uma tremenda baboseira, e a única coisa que eu seria digna de ser qualificada nesse esdrúxulo adjetivo é o "pseudo". Pois não sou nada disso.

Logo, o que eu tenho a dizer é: não entendi, pelo menos não plenamente, qual é a da história. Conversando sobre ela com minha mãe, esta afirma: "É, não é fácil compreender a Clarice, ela é muito hermética". De fato, a narração da escritora, ao menos nessa obra e, antes de mais nada, a meu humilde ver, é um tanto fechada mesmo. Parece que a história, suas palavras, só fazem sentido, realmente, para sua própria inventora. Parece que as palavras brotaram de sua mente para suas mãos e, depois, em direção ao papel, como que soltas a esmo, numa espécie de frenesi. Sim, uma excitação impulsiva na tentativa de conseguir passar aquilo que aparece num estalo em seus pensamentos, de não perder uma só inspiração, de deixar o seu inconsciente falar e revelar o escondido em sua alma. Meio que no estilo do surrealismo: a escrita automática, que desnuda os mistérios do intelecto.

Vejamos se vou me dar por entendida.
Eis um trecho do livro:

“Escrevo neste instante com algum prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e logo se coagular em cubos de geléia trêmula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela – e é claro que a história é verdadeira embora inventada – , que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro – existe a quem falte o delicado essencial.”


Entenderam algo, de fato? Não. No contexto, é claro, é possível. Conhecendo o perfil da personagem, o desenrolar da narrativa, depreende-se um significado até bem profundo desse trecho. E, é claro, tendo um Qi mais elevado do que o meu. Falando sério, considero-me imatura para compreender, naquela compreensão que liberta a alma, que faz a gente suspirar ou ficar extasiados, esse escrito de Clarice. De repente, não tenha mesmo sua alma de poeta, com seus devaneios e questões muito além do comum, onde os olhos não vêem e só o coração sente. Algumas coisas me pareciam sem propósito, não faziam sentido, por mais que eu relesse: eu sabia existir algo ali que eu não estava conseguindo alcançar.

Entretanto, olhando novamente para esse trecho, ele se encaixa na trama e na disposição dos personagens, principalmente a protagonista, Macabéa. E os trejeitos grotescos da moça, de certa forma, condizem com o fato de existir, em cada ser humano, seu lado bizarro, surreal; como é dito no trecho, o lado em que "todos nós somos um" e, de alguma maneira e em algum momento, todos já tivemos momentos nos quais parecia-nos faltar ânimo, alma, o delicado essencial. E, deveras, existem muitas pessoas desfalcadas desse delicado essencial. Esbarramos com ela todos os dias: umas vezes percebemos, outras, não. Ainda tem de se considerar que foi a última obra dela antes de falecer, creio que meses antes. Por isso, acredito ser a obra uma forma de suspiro final, de grito, de tentativa de compreender o mundo e o seu interior, já que ela própria se julgava um mistério que não entendia.

Mas foi fazendo uma breve pesquisa sobre a autora, para a confecção desse post, que encontrei escritos nos quais ela, sim, genuinamente, capta elementos da autêntica essência humana, com simplicidade, beleza e profundidade. Fiquei embasbacada e emocionada diante de muitos deles! E fiz uma pequena seleção dos favoritos:


“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.”


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"O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis.
[...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.
É pouco, é muito pouco.”

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"O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.”

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“Através de meus graves erros — que um dia eu talvez os possa mencionar sem me vangloriar deles — é que cheguei a poder amar. Até esta glorificação: eu amo o Nada. A consciência de minha permanente queda me leva ao amor do Nada. E desta queda é que começo a fazer minha vida. Com pedras ruins levanto o horror, e com horror eu amo. Não sei o que fazer de mim, já nascida, senão isto: Tu, Deus, que eu amo como quem cai no nada.”

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“Até hoje eu por assim dizer não sabia que se pode não escrever. Gradualmente, gradualmente até que de repente a descoberta tímida: quem sabe, também eu já poderia não escrever. Como é infinitamente mais ambicioso. É quase inalcançável”.

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“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca [...].”

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“Eu disse a uma amiga:
— A vida sempre superexigiu de mim.
Ela disse:
— Mas lembre-se de que você também superexige da vida.
Sim.”



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Fonte: www.claricelispector.com.br

Os trechos por si só são obras-primas, maravilhosos!
Não sei quanto a vocês, mas me vi escrita em todos eles, mesmo que mais em determinadas partes. Através deles eu acredito, piamente, Clarice escreveu um pouco de todos nós.
Não sou uma expert em Clarice Lispector: só li uma obra, alguns textos, pequenos recortes. Citando minhas amigas em nossos ate saudosos dias de terceiro ano/pré-vestibular, podem me classificar "poser", dizendo ser fingimento ou pieguice...

Porém, só por esses pequenos fragmentos, eu já carinhosamente declaro que a verdadeira estrela é a própria Clarice, a qual revela um pouco desse brilho cósmico que existe em todos nós. E essa foi a hora dela no meu blog. A hora da estrela. A hora de Clarice.


domingo, 4 de abril de 2010

Descobertas subestimadas

Um milagre aconteceu, nós temos que louvar!

Sim, sim, estou aqui num intervalo de tempo extraordinariamente curto desde minha última postagem. Da noite para o dia, o estalo do escritor rotineiro, do colunista diário, ou da pré-adolescente com seu companheiro "diário secreto" despertou dentro de mim.

Ok, mentira.

Comecemos pela verdade. Graças a Deus, ingressei na Escola de Comunicação da UFRJ! Viva!!!

Lá mesmo, meus olhos, já no segundo dia de palestras da Semana de Calouros, foram abertos. Não abertos a coisas extraordinárias de cara, mas a um alerta de uma professora de Jornalismo da faculdade: acostume-se a escrever todo dia, pelo menos um pouco. É isso que vou me esforçar mais para conseguir fazer aqui (e que lugar mais propício, não?).


Às vezes, subestimamos as coisas simples que nos circundam. Naturalmente, é claro, pois elas acabam se tornando vulgares ao nosso olhar. Porém, muitas vezes, isso pode consistir em um erro grave.

Tomamos por exemplo um bebê, em seus primeiros meses de vida. Eu sei, eu sei: ooooooh! Que bonitinho! Sim, é uma fofura, uma coisa rica e linda mesmo! Entretanto, o mais incrível é se prender aos detalhes. Como um ser humano tão pequeno pode ter mãozinhas perfeitas, com os detalhes das dobrinhas dos dedos e das covinhas rechonchudas; pézinhos que parecem bisnaguinhas com dedinhos, olhinho, nariz, orelha e um sorriso tão... desculpe a repetição, perfeitos (é difícil encontrar outra palavra pra isso)? Ou melhor, como pode haver um ser humano tão pequeno? Digo, nós já fomos daquele tamanho! É difícil ver-nos em miniaturas, e as miniaturas são sempre mais fofas; é um fascínio misterioso. Como é que a vida é realmente um milagre de Deus, não? Como é tudo tão... perfeito!

Embebida por esse sentimento de incredulidade, comecei a perceber que nós, homo sapiens adultos, esquecemos da maravilha que é descobrir. Tirar a cobertura das coisas, vê como elas são a fundo. Talvez, sim, porque naturalmente nos acostumemos com o que nos cerca. Porém, nesse costume, acabamos por deixar passar re-descobertas com potencial valor.

Vejo isso através do meu sobrinho (lindo demais!). Como ele, em seus 4 meses de vida, não deixa descansar os olhinhos, quando abertos, observando tudo ao redor, nos mínimos detalhes! E é tão bonito ver a cara dele de espanto, fascinado, descobrindo o mundo ao seu redor. É muito bonito mesmo. Desde cedo, ele descobrindo a si mesmo; sua mão, seus dedinhos, seus pés... ele todo, no espelho... que coisa linda!

Descobrindo os objetos, a luz no teto, na rua, os carros, os sons, as cores do mundo, as pessoas. Olhando, pensando, pensando, processando... E a gente tentando descobrir também: o que se passa naquela cabecinha que acabou de chegar? Lugares onde estamos acostumados a ir consistem sempre em uma nova jornada, algo realmente novo. A Rua Conde de Bonfim, que conhecemos tão bem, é um novo continente para ele, a ser desbravado. Almofadas, paredes coloridas, armários, chinelos, cadernos, quadros... Tudo é uma gama farta de formas e cores novas, incríveis!

E ele também re-descobre. Melhor do que nós! Sim, eu presenciei isso ontem. Ele redescobre como é olhar para a mãe, como é o sorriso dela, o seu cheiro (o do leite com açaí! hahahaha). Redescobre como deixa o papai bobalhão, fazendo um monte de palhaçadas só pra fazê-lo rir. Redescobre o seu nome, como ele soa ao seu ouvido. Redescobre os tios e tias, os avós e sua casa; mas redescobre com um tom de familiaridade, como quando se deita na sua própria caminha.

E a tia babona aqui só fica pensando como ele ainda tem a frente para conhecer... Esse mundo imenso, cheio de maravilhas, mas onde é preciso ter muito cuidado! E se empolga com a certeza de que ele será, realmente, um grande descobridor, que não apenas descubra, mas modifique, invente, e faça esse mundo melhorar! Pois é, eu descobri que consigo ver tudo isso no meu pequenininho sobrinho. E que descoberta mais maravilhosa! Sinto-me, de fato, afortunada por ela, por conhecê-la através dele, dessa benção em nossas vidas...

Nesse post, queria enaltecer o valor de descobrir, inclusive o velho. Nós somos muito displicentes, acabamos não reparando um belo dia de sol, ou até de chuva, alguns bens da natureza, "os lírios do campo e as aves do céu"... Que recuperemos essa vontade de saber novas coisas e de lançar um novo olhar sobre as antigas, apreciando-as todas, por mais simples que forem. Essa é uma maneira de agradecer por podermos apreciá-las.

E sempre existe algo inédito!

"Está claro que não devemos tomar as parábolas de Cristo ao pé da letra e ficar deitados à espera de que tudo nos caia do céu. É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu."

(Olhai os Lírios do Campo - Érico Veríssimo)


Em homenagem ao meu sobrinho lindo e MUITO amado, Pedro, que completa seus 4 meses de vida. Que os próximos meses sejam cheios de amor, alegria, paz e saúde, e cheios de descobertas!

terça-feira, 23 de março de 2010

O Relativismo do Século XXI

É certo eu deixar o meu blog em total inércia durante meses, sem sequer dedicar a ele uma só palavra, mesmo que tenha sido esse o objetivo de sua criação? Bem, se você for considerar que eu fui uma das cobaias do assodado vestibular 2009, tendo que me dedicar aos estudos até o início de janeiro de 2010 e, posteriormente, sendo submetida ao nervosismo da espera prolongada pelos resultados... Ah, é certo, sim. Embora eu deva admitir que, antes mesmo desse período de infelicidade acadêmica, eu já não era muito fiel a postagens periódicas, deixando constantemente o recinto aberto às moscas.

Então chega até a ser errado eu ter um blog se não posto nele, sendo essa sua função primordial, não acham? Hm, se bem que, se não tivesse, estaria privando-os injustamente, meus caros, de se deleitar com minhas doces palavras. (...) Ok, não estou com moral pra deixar a modéstia ir às favas.

Brincadeiras à parte (é, gente, foi só uma brincadeira, pra descontrair!), talvez, nessa situação, possamos dizer que não existe propriamente um “certo” ou um “errado”. Mas não é bem assim que as coisas funcionam lá fora, na vida.

A cultura que nos é oferecida neste tão ovacionado século XXI, aclamado por suas conquistas e “modernidades”, é uma cultura relativista. Tudo é relativo. Não existe certo ou errado: isso depende de cada um. Encontra-se fortemente disseminado um pseudo-esclarecimento: “eu sou uma pessoa esclarecida porque sei que não existe verdade, que não existe certo ou errado, que isso tudo é ‘moralismo barato’ do século XIX, o qual ainda existe somente por causa de pessoas insistentes em continuar quadradas, sem se modernizarem”. Quem nunca ouviu uma declaração parecida com essa uma vez na vida? Ou quem mesmo não já falou assim alguma vez? Pois é, queridos, infelizmente, esse é o hino à mediocridade, proclamado com tanto alarde.

Primeiro que, por essência, esse é um pensamento contraditório. Afirmar que “não existe verdade” já é querer afirmar uma verdade. Dizer que “não existe certo ou errado” já é querer atestar algo que se julga estar certo. Encontrando essa duplicidade logo na base do pensamento, podemos rapidamente diagnosticá-lo e encontrar as origens de sua existência. É uma premissa falsa, usada para fugir dos incômodos, constrangimentos e contrariedades acarretados pela busca do certo e correção do errado.

Sim, porque procurar o que é certo custa, e muito. Custa a renúncia aos nossos caprichos, ao ímpeto natural do ser humano de querer impor sua vontade às circunstâncias, à satisfação pessoal a qualquer custo. E reconhecer o errado custa tanto quanto: custa o preço do nosso orgulho, da nossa relutância em avaliar nosso comportamento e, de repente, encontrar falhas sérias que precisariam ser reparadas. Resumindo, é um pensamento cômodo, porque não exige que consertemos nossos defeitos e tenhamos de lutar para crescer nas qualidades.

E é uma ideologia moldada às conveniências pessoais. Claro. Aquela artista se comporta de uma maneira tão vulgar... Mas, por quê? Não existe certo ou errado. Ah! Mas se a mulher que está dançando do lado do nosso namorado tem esse comportamento, AÍ SIM, ESTÁ ABSOLUTAMENTE ERRADO! ABSURDO! E não hesitamos em taxá-la logo de P****! Como não?! E tenho dito! (...) Ué, então, quer dizer que se torna uma coisa errada apenas quando concerne a mim, quando me atinge diretamente? Ora, se é errado numa ocasião, é tão errado quanto na outra.

Sem contar que é uma questão filosófica. Sim, porque, se não existe verdade, vamos jogar fora toda a Filosofia, todinha, na lata do lixo. Sócrates, Aristóteles, Platão, Kant, Descartes, Nietzsche, São Tomás de Aquino, Santo Agostinho, todos os filósofos, e suas teorias, vão por água abaixo. É lógico, porque a Filosofia prima por buscar a verdade. Que busca mais insensata seria essa se fosse por algo que não existisse, não é mesmo?

Seguindo nessa linha, joga-se a Matemática fora! Como pode sequer haver tal coisa como Ciências Exatas? Nada é exato! Joga-se o Direito fora. Para que leis? Vejam bem, não estou querendo dizer que todas as leis estejam certas. Mas elas são (tá bom, ou deveriam ser) feitas visando o que é correto, corroborá-lo, torná-lo próprio do dia a dia das pessoas, já que se trata de atingir o bem comum, o que é bom para todos. E por dizer "bom para todos", é no sentido coletivo, e não no individual. Ou seja, se cada um agir de acordo apenas com o que acha que é o que se deve fazer, supondo que não existem regras para isso, tudo vira uma baderna (citando meu saudoso professor de Sociologia, uma basófia!).

Com efeito, eu posso tranquilamente bater no meu irmão se ele acabar com a manteiga, mesmo que ele goste, porque eu adoro manteiga, e como não há parâmetros a se seguir, cada um inventa sua própria lei, posso muito bem fazê-lo, sem culpa. Ou quem sabe posso matar alguém por ter tirado minha vaga numa universidade, já que pra mim, isso é digno de morte (pouco importam os méritos da pessoa que conseguiu a vaga). Pode parecer banal em algumas horas, mas, na verdade, é algo bem sério.

É imprescindível haver um norte para onde se direcionar, conquanto naturalmente nos desviemos dele, como é próprio das nossas tendências humanas. Do contrário, será uma ditadura pessoal, em que cada um viverá de acordo unicamente com seus juízos, independente da repercussão desses para com os demais. Quando se faz o que quer e se é escravo das próprias vontades, em vez de alcançar essa ilusória liberdade prometida, torna-se um tirano que quer, no fundo, ser o dono da razão. E, dessa maneira, obviamente, é completamente impossível existir uma boa convivência social.

Não estou dizendo, devo salientar, que existe alguém dono da verdade em todo e qualquer momento, ou que esteja sempre certo. Não. Nem que tenhamos de adquirir uma visão maniqueísta das coisas ao nosso redor, separando-as em totalmente certas ou totalmente erradas. Não pode ser assim, porque, em muitas ocasiões, há um elevado grau de complexidade. No entanto, do mesmo modo, não podemos ficar em cima do muro, olhando ao redor para ver qual é o melhor lado ao qual pender; relativizando tudo na tentativa de sairmos bem em todas as ocasiões, sem sacrifícios ou dificuldades.

Existe a Verdade, a Mentira, o Certo e o Errado, sim. Se não existissem, estaríamos todos perdidos. E se eu, ambicionando ser jornalista, acreditasse nessa crença limitada das coisas... bem, se ainda conseguisse tirar um diploma, seria para jogá-lo diretamente no lixo. Porque um jornalista quer encontrar verdades, desvendar mentiras. É intrínseco de sua profissão. E pretendo continuar firme nesse objetivo.


Podem atirar a pedra agora, acusar-me de retrógrada, seja lá o que for. De repente, minha mentalidade realmente se encaixaria melhor em tempos mais antigos (e todos sabem que eu era pra ter sido jovem nos anos 60 hahahahaha!). Esse foi um post de inauguração do ano de 2010. Uma tentativa de fazer as pessoas refletirem e tomarem cuidado com essa cultura relativista dominante, que alastra seus tentáculos para todo lado, grudando suas ventosas em mais e mais cabeças. É preciso pensar bem sobre isso.

E também, é claro, foi um desabafo, das indignações que ficam no meu peito provenientes desse assunto, de quando eu o vejo vivo no meu dia a dia. Aqui é meu espacinho né, meu pedaço de ser gente e de me expressar.

Além disso, é bom ter um post desses para conseguir respirar fundo e colocar minha cabeça no lugar na hora que vier aquela pergunta crucial, balançando os nervos...

"Alôôôu, em que século você vive?"

John Lennon - Gimme Some Truth

sábado, 21 de novembro de 2009

A esperança no Sol que vem

É engraçado, belo, por assim dizer, a confiança depositada no nascer do Sol. Ainda que metaforicamente...

O fim do ano 2009, aos poucos, anuncia nas esquinas, nas luminárias das janelas, no clima etéreo que se propaga, aos poucos, tal como uma massa de ar leve, de brisa fresca, nas guirlandas já penduradas, ou ainda que seja nas promoções das vitrines comerciais, mais uma celebração do Natal e a chegada de 2010. Mais uma vez, o Nascimento. Nascer de novo. Um novo ano. Uma nova década. Uma nova chance de fazer o velho novo e o novo, velho também, porque dá lugar a outros ventos (que, apesar de inéditos, não arrastam o que, por ser antigo, é de imensa importância).

Assim também, muitas vezes, somos abordados pelo desconhecido que vem. São bastante frequentes as ocasiões em que sobrecarregados por trabalho, deveres, obrigações, somos abatidos, fatigados pelos fardos recaídos em nossos ombros, desolados por não senti-los mais leves e, sim, cada vez mais pesados.

É assim que muitas pessoas humildes levantam de suas camas, tomam seus cafés-da-manhã modestos, pegam seus ônibus de madrugada, andam tal qual errantes nos mesmos caminhos rotineiros, debaixo de sol tórrido ou de chuva torrencial, de calor modorrento ou frio rasgante, rumo ao labor, ao batente: e é assim que se sentem ao ver as perspectivas para dias diferentes desses tão melancólicos e difíceis se tornarem poucas e turvas e ao não enxergar, por mais que se investigue, sintoma de melhoras, daquelas significativas, a priori. Mas é também na sua humildade que, com fé, ao pé da janela de casa ou diante da janela dos autos, depositam sua confiança na alvorada. E vêem simbolicamente no Sol, o qual não parece nunca presenteá-las com novidades ou preconizar mudanças, de aparência imutável, como o despertador monótono de um relógio batendo todas as manhãs, a Esperança vir à reboque de um novo dia. Não são levados por algum motivo extraordinário a crer em renovações. Não são despertados por uma súbita e falsa crença na vida. Simplesmente, não mais que simplesmente, na sua fé, contagiam-se pela Esperança que o Sol lhes incurte ao nascer, renascer, belo e imponente, na madrugada das manhãs.

As comparações são muitas. O nascer do Sol é algo miraculoso, magnânimo. Sintetiza perfeitamente todas as reações, sejam químicas, físicas, biológicas ou sentimentais fervilhadas quando algo está a caminho. A luz dourada, o deitar delicado dos raios solares em cima dos prédios, trazendo mais um dia para as plantas, florescendo-as, e os pássaros e animais, preparando-os para a chegada da Primavera. Aos homens, a fim de aquecer e iluminar suas noites internas. Traz luz, calor, alegria, vida. Nos invernos mais longos, solitários e frios, derretendo os gelos secos e os úmidos, trazendo os sorrisos de volta às suas faces. Realmente, o alvorecer é muito subestimado. Infelizmente, é raro nós pararmos para reconhecer o que ele é e o que nos traz todos os dias, seja no sentido denotativo ou no conotativo, pelas relações com as quais se estabelece, pelas metáforas que nos traz, pela poesia que enfeita.

É comum eu me sentir assim: lúgubre, triste, enclausulada nas minhas próprias e ínfimas dores. Mas o Sol vem com seu poder desintegrar o casco formado, por mim mesma, ao meu redor. É indescritível a sensação de sentir isso acontecer, de ter noção da força vinda desse Sol às vezes, sem presentes, porém, sempre presente. E é, da mesma forma, impossível dizer em palavras a gratidão que eu sinto por ter esse conhecimento em mente.

Ele não se desenvolveu espontaneamente, por minha conta e responsabilidade. Não, senhor. Ele veio com a música. De alguém muitíssimo especial, que, graças a Deus, transmitiu-mo com toda a ternura possível, a simplicidade e musicalidade que emociona e fixa esses sentimentos dentro do meu coração, para que toda a vez que eu tenha um acesso íntimo a esse nascer, recorrendo à sua música, sem necessariamente precisar ver o ensolarar na janela; já está fincado no meu imaginário (apesar de que, quando ouço a canção e vejo a cena retratada ao vivo, é indubitavelmente mágico).

Foi ele quem criou essa perspectiva em mim, e sou-lhe imensamente grata. Da mesma forma, a passa, pela universalidade de sua bela música, para todos os seres humanos, sem qualquer acepção, como era caracterísitico de sua pessoa: é por isso que tantos corações foram, são e serão conquistados. Para que também creiam em dias mais luminosos. Um toque especial e irreversível na alma. Passou-nos valores de fé em Deus, de simplicidade, de discrisção, mas de amor, grande e preocupação e olhar atento aos sofridos ao redor do mundo. E, especialmente agora, 8 anos depois da partida para fora do mundo material em que vivia, que espero e rezo para que ele se encontre além do Sol.

Lá vem ele...


George Harrison - Here Comes The Sun



Here comes the sun, do do do do

Here comes the sun, and I say

It's all right!

Little darling,


It's been a long, cold, lonely winter

Little darling,

It feels like years since it's been here


Here comes the sun, do do do do

Here comes the sun, and I say


It's alright!



Little darling,


The smiles are returning to their faces


Little darling,


It seems like years since it's been here



Here comes the sun, do do do do


Here comes the sun, and I say


It's al right!



Sun, sun, sun, here it comes!


Sun, sun, sun, here it comes!


Sun, sun, sun, here it comes!


Sun, sun, sun, here it comes!


Sun, sun, sun, here it comes!



Little darling,


I feel that ice slowly melting


Little darling,


It seems like years since it's been clear



Here comes the sun, do do do do


Here comes the sun, and I say


It's alright!



Here comes the sun, do do do do


Here comes the sun


It's alright!



It's alright!



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Tudo na escuridão fica mais colorido depois que vem o Sol.


Essa é não é a melhor homenagem que eu poderia prestar a esse grande homem, músico, personagem. Nunca poderei fazer uma homenagem à sua altura; porém, tentei justamente fazer algo singelo, que combinasse com sua personalidade, e transparecesse de maneira leve e clara a minha grande admiração e incomensurável afeição por ele. Tentando, é claro, fugir um pouco da minha pieguice usual. Não sei se consegui, mas se não, me desculpem: a expressão dos sentimentos é limitada até certo ponto!

25/02/1943 - 21/11/2001

To the loving George, in very much loving memory!